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Desafios ao amamentar

1–4 semanas: Desenvolver a sua produção de leite no primeiro mês

Momento de leitura: 6 min.

Se um dos dois não estiver bem, poderá perguntar-se se será seguro amamentar. A boa notícia é que amamentar quando está doente é muito benéfico para ambos. Continue a ler para saber mais

Sabia que, se amamentar, o seu bebé tem, logo à partida, menos probabilidades de adoecer? Apesar de não impedirem completamente que fique doente, as propriedades protetoras do leite materno significam que os bebés amamentados tendem a adoecer menos{1} e a recuperar mais depressa do que os bebés que tomam leite de fórmula.

O leite materno tem elementos antibacterianos e antivirais.{2} Dependendo de quanto tempo amamentar, estará a reduzir o risco de o seu bebé contrair constipações e gripes, infeções nos ouvidos e do trato respiratório, enjoos e diarreia.{1} Os cientistas estão mesmo a investigar o potencial do leite materno no tratamento de condições, desde a conjuntivite ao cancro.{3,4}

Devo amamentar o meu bebé doente?

Sim. Amamentar um bebé doente dá-lhe uma grande hipótese de recuperação rápida, além de ajudar a reconfortá-lo. O seu leite materno contém anticorpos, glóbulos brancos, células estaminais e enzimas protetoras que combatem as infeções e podem ajudar na recuperação.{1,5,6} Tem também um equilíbrio de vitaminas e nutrientes em constante adaptação, ajudando-o a melhorar tão depressa quanto possível. E isto significa menos dias de doença e idas ao médico para ambos.{7}

"A amamentação fornece tudo aquilo de que o seu bebé precisa se estiver debilitado – é medicamento, alimento, fluido e conforto. É o melhor que há no mundo para ele", diz Sarah Beeson, assistente de saúde e enfermeira no Reino Unido.

Surpreendentemente, a composição do seu leite materno muda quando o seu bebé está doente. Se estiver exposta a uma infeção bacteriana ou viral, o seu corpo cria anticorpos para a combater; estes passam, então, para o seu bebé através do seu leite.{8} Os níveis de células que reforçam o sistema imunitário, chamadas leucócitos, no seu leite também sobem rapidamente quando o seu bebé não está bem.{5}

E como o leite materno é muito fácil de digerir, também é o alimento ideal para bebés com perturbações do estômago.

"A minha filha apanhou o norovírus quando tinha 12 meses e o leite materno era a única coisa que conseguia manter no estômago", recorda Maya, mãe de dois filhos, em Espanha. Tínhamos feito o desmame naturalmente até uma sessão de amamentação por dia à hora de deitar, mas o efeito oferta/procura de a amamentar outra vez com mais frequência foi espantoso. Em 48 horas, eu estava com os níveis de produção de uma exploração leiteira! Salvou a minha bebé de ter de ser alimentada a soro."

Tenha em mente que pode ter de alterar a forma como amamenta o seu bebé enquanto ele estiver doente. Por exemplo, um bebé com uma constipação pode querer mamar com mais frequência, mas por períodos mais curtos, tanto por uma questão de conforto, como porque um nariz entupido pode fazer com que seja mais difícil ficar na mama durante muito tempo. Se o seu bebé tiver o nariz entupido, também pode preferir mamar na vertical, portanto, pode experimentar posições de amamentação diferentes. 

E se o meu bebé estiver demasiado mal para mamar?

Por vezes, quando um bebé se sente mesmo doente, pode não ter apetite nem energia para mamar. Se está com dificuldades em fazê-lo mamar, contacte um profissional de saúde, um consultor em aleitamento materno ou um especialista em amamentação para a aconselhar sobre como evitar que fique desidratado.

O profissional pode aconselhá-la a extrair algum leite para alimentar o bebé com uma seringa, um copo ou outro método que tenha percebido ser aquele que exige menos esforço ao bebé para beber. Extrair leite nas alturas em que geralmente amamentaria também vai manter a sua produção de leite constante.

Se tiver alguma preocupação acerca da saúde ou da ingestão de leite do seu bebé, consulte sempre um médico rapidamente.

Posso amamentar mesmo quando estiver doente?

Pode ser a última coisa que lhe apetece fazer, mas é melhor continuar a amamentar ao longo de quase todas as doenças comuns. Se tiver uma constipação ou gripe, febre, diarreia e vómitos, ou mastite, continue a amamentar como sempre. O seu bebé não vai contrair a doença através do seu leite materno. Na verdade, o seu leite vai conter anticorpos para reduzir o risco de o seu bebé apanhar o mesmo micróbio.

"Amamentar enquanto estiver doente não só é seguro, como é uma boa ideia. O seu bebé é, na verdade, a pessoa com menos probabilidades de ficar doente com a sua perturbação de estômago ou constipação, pois já esteve em contacto próximo consigo e está a receber uma dose diária desses anticorpos protetores do seu leite", diz Sarah Beeson.

No entanto, estar doente e continuar a amamentar pode ser extremamente cansativo. Vai precisar de cuidar de si para poder cuidar do seu bebé. Mantenha os seus níveis de fluidos elevados, coma quando puder e lembre-se de que o seu corpo precisa de mais descanso. Reserve um lugar no seu sofá, aconchegue-se com o seu bebé durante alguns dias e peça a familiares ou amigos para ajudarem a cuidar dele quando for possível, para se poder concentrar na sua recuperação.

"Não se preocupe com a sua produção de leite materno – vai continuar a produzi-lo. Mas não deixe de amamentar de repente, pois corre o risco de ficar com mastite", acrescenta Sarah.

Uma boa higiene é importante para minimizar o risco de propagar a doença. Lave as mãos com sabão antes e depois de alimentar o seu bebé, de preparar comida e de comer, de ir à casa de banho e de mudar as fraldas. Tussa e espirre para um lenço, ou para a dobra do cotovelo (não para as mãos) se não tiver um lenço, e lave sempre ou desinfete as mãos depois de tossir, espirrar ou de se assoar.

Faz mal tomar medicamentos durante a amamentação?

Tomar paracetamol, ibuprofeno e alguns antibióticos durante a amamentação não faz mal,{9,10} desde que fale sobre isso com um profissional de saúde e siga as instruções de dosagem. Lembre-se de que o ibuprofeno tem contraindicações para mães asmáticas.

Antigamente, as mães eram aconselhadas a evitar a aspirina, mas um estudo recente indicou ser provável que doses pequenas sejam seguras durante a amamentação.{11} No entanto, doses elevadas têm sido associadas a uma condição rara, mas grave, chamada síndroma de Reye em bebés;{12} por isso, será melhor aconselhar-se junto de um profissional de saúde sobre a utilização de aspirina.

Analgésicos mais fortes, como codeína e tramadol, não são recomendados.{10} Dado que as orientações e recomendações estão constantemente a ser atualizadas, se tiver alguma preocupação, o seu profissional de saúde ou farmacêutico estarão habilitados a dar-lhe mais informação sobre medicamentos específicos.

Alguns medicamentos para a constipação, gripe e tosse contêm descongestionantes e expetorantes, que podem reduzir a sua produção de leite. Não tome nenhum que contenha fenilefrina, fenilpropanolamina ou guaifenesina.{9} Também é melhor evitar medicamentos que provoquem sonolência, quando estiver a amamentar.

"Verifique a embalagem e se continuar com dúvidas, pergunte a um profissional de saúde", aconselha Sarah. "E se o seu bebé nasceu prematuro, com pouco peso, ou se tiver um problema de saúde, deve verificar antes de tomar qualquer medicamento durante a amamentação – mesmo paracetamol.

"Sempre que for ao médico ou a uma farmácia, por qualquer razão, deixe sempre claro que está a amamentar e pergunte qual a melhor opção", acrescenta.

E quando se trata de medicação a longo prazo?

Se estiver a tomar medicamentos a longo prazo para a diabetes, asma, depressão ou outra condição de saúde crónica, os benefícios da amamentação podem ultrapassar os riscos. "Muitas vezes, a amamentação ainda é possível com quase todas as doenças, exceto no caso de algumas condições raras", diz Sarah. "Estará familiarizada com os seus medicamentos usuais e deverá ter oportunidade de falar sobre eles com o seu médico ou especialista durante a gravidez. Existem orientações sobre a segurança dos diferentes medicamentos para todos os profissionais de saúde." De qualquer forma, deve falar sobre esta questão com o seu médico ou profissional de saúde.

Eu estava a tomar uma dose forte de medicamentos para a minha epilepsia, mas, mesmo assim, a amamentação foi possível", diz Nicola, mãe de um filho, no Reino Unido. "Fui supervisionada pelo meu neurologista para conseguir um equilíbrio entre a segurança do meu filho e manter baixo o risco de uma crise. As crises podem ser despoletadas por dormir pouco e eu estava a amamentar de dia e de noite, mas tive muito cuidado comigo e o meu marido também. Tem sido uma experiência positiva."

E se eu tiver de ir para o hospital?

Quer precise de tratamento planeado ou de emergência, existem formas de garantir que o seu bebé continua a receber os benefícios do leite materno e que, por seu lado, pode continuar a amamentar depois de ter alta.

"Extraia e congele o seu leite materno, para um cuidador poder dá-lo ao seu bebé. Pratique com antecedência e não deixe de dizer aos profissionais de saúde que está a amamentar, quando fizer a marcação e quando for internada", sugere Sarah.

"Se o seu bebé for pequeno, talvez o deixem ficar consigo. Pergunte, também, se o hospital tem um consultor em aleitamento materno ou especialista em amamentação que possa consultar. Serão um bom apoio, especialmente se ficar numa enfermaria. Se for uma emergência, certifique-se de que os profissionais de saúde sabem que tem um bebé, porque é pouco provável que se lembrem disso, se não o fizer." Ser operada com anestesia local ou geral não implica que tenha de parar de amamentar ou que tenha de "extrair e deitar fora" o seu leite materno. Quando se sentir suficientemente bem para segurar o seu bebé depois de uma operação, a quantidade de anestesia no seu leite materno será mínima e quase sempre será seguro amamentar.{10} No entanto, deve consultar um profissional de saúde, consultor em aleitamento materno ou especialista em amamentação em qualquer destas circunstâncias.

Há casos em que não deverei amamentar?

Em algumas situações, é mais seguro parar de amamentar temporariamente e extrair e deitar fora o seu leite para manter a sua produção, até o tratamento estar concluído. É o caso de estar a fazer tratamentos de radioterapia ou quimioterapia para o cancro, de ter lesões de herpes na mama ou infeções como a tuberculose, sarampo ou septicemia, que podem ser transmitidas através do seu leite.{13,14} Consulte um médico especialista para falar da sua condição e saber se é melhor continuar ou interromper a amamentação.

Referências

1 Victora CG et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet. 2016;387(10017):475-490.

2 Lönnerdal B. Bioactive proteins in breast milk. J Paediatr Child Health. 2013;49 Suppl 1:1-7.

3 Australian Breastfeeding Association [Internet]. Topical treatment with breastmilk: randomised trials. [cited 2018 Apr 4]. Available from https://www.breastfeeding.asn.au

4 Ho JCS et al. HAMLET–A protein-lipid complex with broad tumoricidal activity. Biochem Biophys Res Commun. 2017;482(3):454-458.

5 Hassiotou F et al. Maternal and infant infections stimulate a rapid leukocyte response in breastmilk. Clin Transl Immunology. 2013;2(4):e3.

6 Hassiotou F, Hartmann PE. At the dawn of a new discovery: the potential of breast milk stem cells. Adv Nutr. 2014;5(6):770-778.

7 Ladomenou F et al. Protective effect of exclusive breastfeeding against infections during infancy: a prospective study. Arch Dis Child. 2010;95(12):1004-1008.

8 Hanson LA. Breastfeeding provides passive and likely long-lasting active immunity. Ann Allergy Asthma Immunol. 1998;81(6):523-533.

9 Hale TW, Rowe HE. Medications and Mothers' Milk 2017. 17th ed. New York, USA: Springer Publishing Company; 2017. 1095 p.

10 Reece-Stremtan S et al. ABM Clinical Protocol# 15: Analgesia and anesthesia for the breastfeeding mother, Revised 2017. Breastfeed Med. 2017;12(9):500-506.

11 Datta P et al. Transfer of low dose aspirin into human milk. J Hum Lact. 2017;33(2):296-299.

12 Morello O. Safe in breastfeeding [Internet]. Italy: Orfeo Morello; 2016. Aspirin: Can I take aspirin while breastfeeding? [cited 2018 Apr 4]. Available from: https://www.safeinbreastfeeding.com/aspirin/

13 Lamounier JA et al. Recommendations for breastfeeding during maternal infections. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Suppl):181-188.

14 Hema M et al., Management of newborn infant born to mother suffering from tuberculosis: Current recommendations & gaps in knowledge. Indian J Med Res. 2014;140(1):32-39.