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O poder do leite materno

Amamentar quando você ou o bebê estiver doente

Momento de leitura: 2 min.

Uma mãe conforta o seu bebé enquanto este dorme na sua cama.

Você sabia que com a amamentação seu bebê tem menos possibilidade de adoecer? Embora não impeçam completamente a doença, as propriedades protetoras do leite materno significam que o bebê tende a adoecer menos1 e a se recuperar mais depressa do que o bebê que toma leite de fórmula.

 

O leite materno contém elementos antibacterianos e antivirais.2 Dependendo de quanto tempo você amamentar, diminui o risco de seu bebê contrair resfriados e gripes, infecção nos ouvidos e no trato respiratório, diarreia e enjoos.1 Os cientistas pesquisam até mesmo o potencial do leite materno no tratamento de condições que variam da conjuntivite ao câncer.3,4

 

Posso amamentar meu bebê doente?

Sim. Amamentar o bebê doente é uma ótima oportunidade de recuperação rápida, além de ajudar a confortá-lo. O leite materno contém anticorpos, glóbulos brancos, células-tronco e enzimas protetoras que combatem infecções e podem ajudar na recuperação.1,5,6 Também apresenta equilíbrio de vitaminas e nutrientes em constante adaptação, que ajudam o bebê a melhorar o mais rápido possível. E isso significa menos dias de doença e consultas médicas para você e ele.7

"A amamentação fornece tudo o que seu bebê precisa se estiver debilitado – para ele é medicamento, alimento, líquido e conforto. É a melhor coisa do mundo para ele", diz Sarah Beeson, assistente de saúde e enfermeira do Reino Unido.

Surpreendentemente, a composição do seu leite materno se altera quando o bebê está doente. Se você estiver exposta a uma infecção bacteriana ou viral, seu corpo cria anticorpos para combatê-la, e estes passam para o bebê através do seu leite.8 Os níveis das células que reforçam o sistema imunológico, chamadas leucócitos, do seu leite aumentam rapidamente quando o bebê não está bem.5

E, como o leite materno é muito fácil de digerir, é também o alimento ideal para o bebê com problemas digestivos.

"Minha filha contraiu norovírus aos 12 meses, e o leite materno era a única coisa que parava no seu estômago", lembra Maya, mãe de dois filhos, da Espanha. Tínhamos feito o desmame naturalmente, reduzindo a uma mamada por dia na hora de dormir, mas o efeito de oferta e procura da amamentação mais frequente me surpreendeu muito. Em 48 horas, eu estava com altos níveis de produção láctea! Isso evitou que minha bebê fosse alimentada com soro".

Leve em conta que talvez você precise mudar a forma de amamentar o bebê enquanto ele estiver doente. Por exemplo, o bebê resfriado pode querer mamar com mais frequência, mas por períodos mais curtos, por questão de conforto e porque o nariz entupido pode dificultar a mamada por mais tempo. Se o bebê estiver com o nariz entupido talvez ele prefira mamar na vertical, por isso você deve experimentar diferentes posições de amamentação. 

 

E se o bebê estiver se sentindo mal demais para mamar?

Às vezes, quando o bebê se sente muito mal, ele pode não ter apetite nem energia para mamar. Se você estiver com dificuldades para fazê-lo mamar, procure um profissional de saúde, consultor em aleitamento ou especialista em amamentação para orientações sobre como evitar que ele fique desidratado.

O profissional pode aconselhá-la a extrair leite para alimentar o bebê com seringa, copo ou outro método que você conheça, que exija menos esforço do bebê. Além disso, extrair leite na sua hora normal de amamentar irá manter a produção de leite estável.

 

Sempre que você tiver alguma dúvida sobre a saúde ou ingestão de leite do bebê, consulte um médico imediatamente.

 

Posso amamentar mesmo quando estiver doente?

Essa pode ser a última coisa que você queira fazer, mas é melhor continuar amamentando durante quase todas as doenças comuns. Se você tiver resfriado, gripe, febre, diarreia, vômitos ou mastite, continue a amamentar normalmente. Seu bebê não vai contrair a doença através do leite materno. Na verdade, o leite contém anticorpos que reduzem o risco de o bebê contrair o mesmo microrganismo.

"Além de ser seguro, amamentar quando estiver doente é uma ótima ideia. Seu bebê é, na verdade, a pessoa com menos probabilidade de adoecer por causa de um problema digestivo ou resfriado seu, pois ele está em contato próximo com você e recebe uma dose diária de anticorpos protetores do seu leite", afirma Sarah Beeson.

No entanto, adoecer e continuar amamentando pode ser extremamente cansativo. Você precisa cuidar bem de si mesma para poder cuidar do bebê. Mantenha seus níveis de hidratação, alimente-se quando puder e lembre-se de que seu corpo precisa de mais descanso. Reserve um lugar no sofá e fique bem aconchegada com o bebê durante alguns dias. Peça a familiares ou amigos para cuidarem dele quando possível, para que você se concentre na sua recuperação.

"Não se preocupe com sua produção de leite materno – você vai continuar produzindo. Mas não deixe de amamentar de repente, pois você corre o risco de ter mastite", acrescenta Sarah.

Uma boa higiene é importante para minimizar o risco de propagar a doença. Lave as mãos com sabão antes e depois de amamentar o bebê, de preparar a comida, se alimentar, ir ao banheiro e trocar fraldas. Quando tossir ou espirrar, use lenço de papel ou a dobra do cotovelo (não as mãos), se não tiver lenços por perto, e sempre lave ou desinfete as mãos depois de tossir, espirrar ou assoar o nariz.

 

Posso tomar medicamentos durante a amamentação?

Você pode tomar paracetamol, ibuprofeno e alguns antibióticos durante a amamentação, 9,10 desde que converse com um profissional de saúde e siga as instruções de dosagem. Lembre-se de que o ibuprofeno é contraindicado para mães asmáticas.

Antes, as mães eram aconselhadas a evitar a aspirina, mas um estudo recente indicou que doses baixas são provavelmente seguras durante a amamentação.11 No entanto, doses elevadas têm sido associadas a uma condição rara, mas grave, denominada síndrome de Reye no bebê;12 por isso, é melhor discutir o uso de aspirina com seu médico.

Analgésicos mais fortes, como codeína e tramadol, não são recomendados.10 Como as orientações e recomendações são constantemente atualizadas, seu médico ou farmacêutico pode fornecer mais informações sobre medicamentos específicos se você tiver alguma dúvida.

Alguns medicamentos para resfriado, gripe e tosse contêm descongestionantes e expectorantes, que podem reduzir sua produção de leite. Não tome nada que contenha fenilefrina, fenilpropanolamina ou guaifenesina.9 Também é melhor evitar medicamentos que provoquem sonolência, quando você estiver amamentando.

"Verifique a embalagem e, se continuar insegura, consulte um profissional de saúde", aconselha Sarah. "Se seu bebê nasceu prematuro, com baixo peso, ou tiver algum problema de saúde, verifique antes de usar qualquer medicamento durante a amamentação – mesmo o paracetamol.

"Sempre que você for ao médico ou à farmácia, por qualquer motivo, sempre avise que está amamentando e pergunte qual a melhor opção", acrescenta.

 

E quando se trata de medicação a longo prazo?

Se você toma medicamentos a longo prazo para diabetes, asma, depressão ou outra condição de saúde crônica, os benefícios da amamentação podem compensar os riscos. "Com frequência, a amamentação é possível no caso de quase todas as doenças, exceto algumas condições raras", diz Sarah. "Você já estará acostumada com sua medicação normal e deve ter a oportunidade de conversar sobre isso com seu médico ou especialista durante a gravidez. Todos os profissionais de saúde recebem orientações sobre a segurança dos diferentes medicamentos". De qualquer forma, você deve discutir o assunto com seu médico ou profissional de saúde.

"Eu estava usando uma dose forte de medicamento para epilepsia, mas mesmo assim a amamentação foi possível", diz Nicola, mãe de um filho, do Reino Unido. "Tive acompanhamento do meu neurologista para conseguir equilíbrio entre a segurança do meu filho e manter baixo meu risco de crise. As crises podem ser disparadas por falta de sono, e eu amamentava dia e noite, mas me cuidei bem com ajuda do meu marido. A experiência foi muito positiva".

 

E se eu precisar ir para o hospital?

Seja para tratamento planejado ou de emergência, há formas de garantir que seu bebê continue recebendo os benefícios do leite materno e você possa continuar amamentando depois da alta.

"Extraia e congele seu leite materno para que alguém possa dá-lo ao bebê. Pratique com antecedência e avise aos profissionais de saúde que você está amamentando, quando a internação for marcada e novamente na hora da admissão", sugere Sarah.

"Se seu bebê for muito novo, talvez o deixem ficar com você. Procure saber se o hospital conta com um consultor em aleitamento ou especialista em amamentação que você possa consultar. Eles serão um excelente apoio, principalmente se você ficar em enfermaria. Se for uma emergência, informe aos profissionais de saúde que você tem um bebê, pois é pouco provável que pensem nisso se você não o fizer".

Se você for submetida a cirurgia com anestesia local ou geral, não é preciso parar de amamentar ou "extrair e jogar fora" seu leite materno. Quando você se sentir bem o bastante para segurar o bebê depois da cirurgia, a quantidade de anestesia no seu leite será mínima e quase sempre é seguro amamentar.10 No entanto, nesse caso você deve consultar um profissional de saúde, consultor em aleitamento ou especialista em amamentação.

 

Há casos em que não posso amamentar?

Em algumas situações, é mais seguro parar de amamentar temporariamente. Extraia e jogue fora o leite para manter sua produção até terminar o tratamento. Esses casos incluem o tratamento de câncer com radioterapia ou quimioterapia, lesões de herpes na mama e doenças infecciosas como a tuberculose, sarampo ou septicemia, que podem ser transmitidas pelo seu leite.13,14 Consulte um médico especialista para discutir sua condição e saber se é melhor continuar ou interromper a amamentação.

Referências

1 Victora CG et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet. 2016;387(10017):475-490.

2 Lönnerdal B. Bioactive proteins in breast milk. J Paediatr Child Health. 2013;49 Suppl 1:1-7.

3 Australian Breastfeeding Association [Internet]. Topical treatment with breastmilk: randomised trials. [cited 2018 Apr 4]. Available from https://www.breastfeeding.asn.au/tropical-treatment-with-breastmilk-randomised-trials

4 Ho JCS et al. HAMLET–A protein-lipid complex with broad tumoricidal activity. Biochem Biophys Res Commun. 2017;482(3):454-458.

Hassiotou F et al. Maternal and infant infections stimulate a rapid leukocyte response in breastmilk. Clin Transl Immunology. 2013;2(4):e3.

Hassiotou F, Hartmann PE. At the dawn of a new discovery: the potential of breast milk stem cells. Adv Nutr. 2014;5(6):770-778.

7 Ladomenou F et al. Protective effect of exclusive breastfeeding against infections during infancy: a prospective study. Arch Dis Child. 2010;95(12):1004-1008.

8 Hanson LA. Breastfeeding provides passive and likely long-lasting active immunity. Ann Allergy Asthma Immunol. 1998;81(6):523-533.

9 Hale TW, Rowe HE. Medications and Mothers' Milk 2017. 17th ed. New York, USA: Springer Publishing Company; 2017. 1095 p.

10 Reece-Stremtan S et al. ABM Clinical Protocol# 15: Analgesia and anesthesia for the breastfeeding mother, Revised 2017. Breastfeed Med. 2017;12(9):500-506.

11 Datta P et al. Transfer of low dose aspirin into human milk. J Hum Lact. 2017;33(2):296-299.

12 Morello O. Safe in breastfeeding [Internet]. Italy: Orfeo Morello; 2016. Aspirin: Can I take aspirin while breastfeeding? [cited 2018 Apr 4]. Available from: https://www.safeinbreastfeeding.com/aspirin/

13 Lamounier JA et al. Recommendations for breastfeeding during maternal infections. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Suppl):181-188.

14 Hema M et al., Management of newborn infant born to mother suffering from tuberculosis: Current recommendations & gaps in knowledge. Indian J Med Res. 2014;140(1):32-39.

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